“Ah, que cor molhada! ”
“Hum, essas pinceladas quase queimaram a tela...”
“Trescalam noites de sândalo daquela pintura, cuja moldura não é suficiente para represar a onda que exala de seu caldeirão cromático."

Os comentários acima, baseados todos no princípio sinestésico da fusão de diferentes sensações físicas, não apenas traduzem o impacto causado pela apreciação das obras de Francisco (Quinho) Miranda, como evocam a teoria do filósofo francês Merleau-Ponty (1908-1961), que, em Fenomenologia da percepção, propõe que o sensível é fundamental para a construção perceptiva do mundo ao nosso redor, e não somente um instrumento para gerar a consciência sobre os objetos, rechaçando assim o conceito positivista segundo o qual o pensamento seria anterior e superior à experiência sensorial.
A partir da análise da obra de Cézanne, Merleau-Ponty demonstra que os cinco sentidos não são passivos, reduzindo-se a meros receptáculos de estímulos externos; em vez disso, são atuantes na formulação dos objetos por eles captados, já que a noção de movimento, na equação defendida pelo pensador francês, é indispensável ao avaliar diferentes resultados de apreciação artística. Um observador em um museu ou galeria, por exemplo, que se dispuser a movimentar-se em torno de uma obra, ora aproximando-se, ora afastando-se, experimentando todos os ângulos possíveis, terá uma percepção mais completa e rica do trabalho do artista, além de abrir-se a inéditas e criativas interpretações. Em outras palavras, a liberdade do movimento, tanto por parte do pincel nas mãos do criador, quanto por parte do olhar do apreciador, é o que propicia múltiplas perspectivas.
E multiplicidade é precisamente a que o universo inspirador de Quinho Miranda nos conduz: linhas e traços ascendentes e descendentes, entrecruzados, diagonais, circulares, irregulares, erráticos, pulsantes. Manchas que são explosões de cores inusitadas, e concomitantemente sobrepõem as texturas umas às outras. Uma obra que estimula a movimentação do nosso olhar, ansioso por capturar tantas sugestões intuitivas, tantos sentimentos vertidos em matizes e tonalidades, e nos induz a concordar com Merleau-Ponty – o sentir já é o próprio perceber.
Por Darci de Souza Baptista

Darci de Souza Baptista (1972- ), licenciado em Letras-Português e bacharel em Letras-Inglês pela Universidade de São Paulo, é professor de Língua Portuguesa desde 1995, em São José dos Campos e região. Além de autor de material didático de Literatura para ensino médio e curso pré-vestibular e organizador de clubes de leitura, é estudioso da cultura popular e do inconsciente coletivo, com ênfase na História do Carnaval brasileiro. Defensor do multiculturalismo e da interdisciplinaridade, acredita no diálogopermanente entre as artes e a literatura, entre as humanidades e as ciências da natureza, entre a tecnologia e a filosofia, preferencialmente mediado pela poesia.

Sobre o artista:

Francisco Carlos Bueno de Miranda é Quinho:
Arquiteto e Bacharel em Artes Plásticas; Faculdade de Belas Artes de São Paulo, nasceu em São José dos Campos. Suas obras receberam prêmios como a medalha de ouro no III Salão Universitário de Artes Plásticas, em São Paulo e também no IV Salão de Artes dos Artistas Plásticos Profissionais do Rio de Janeiro.

Instagram: @quinhomiranda

Confira as exposições anteriores na nossa galeria digital: behance.net/mostravicentina

EXPOSIÇÃO VIRTUAL MUITO ALÉM DA FORMA - A ARTE DE QUINHO MIRANDA
Data: 05/10 | Terça-feira 
Horário: 19h

Endereço:
Rua Prudente M Moraes, 302
Vila Adyana São José dos Campos
Cep: 12243-750
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Telefone:
(12) 3911-7090

E-mail:
contato@pqvicentinaaranha.org.br




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